Capítulo 02
Mansão
Foster – 10:45 da manhã – Sala de Estar
O
silêncio da sala de estar contrastava com o caos que ainda ecoava dentro de Penny.
Sentada no velho sofá de veludo desbotado, ela tentava controlar a respiração,
enquanto pensamentos se empilhavam em sua mente como poeira acumulada nos
cantos daquela casa antiga.
Minutos
antes, ela havia saído às pressas do sótão. Os joelhos ainda trêmulos e o
coração descompassado denunciavam o susto. A imagem do vulto refletido no
espelho empoeirado continuava vívida em sua memória. Não fora apenas uma
sombra... havia presença naquele reflexo. Alguém ou algo a observava de volta.
Penny
esfregou os braços, tentando afastar o arrepio persistente. Seus olhos
percorreram a sala, como se buscassem alguma âncora na realidade, algum
vestígio de normalidade. Mas tudo ali parecia contaminado por uma desconfiança
súbita: os quadros tortos na parede, a lareira apagada, o rangido sutil do
assoalho ainda que ninguém se movesse.
Ela
sabia, no fundo, que não fora alucinação. O espelho não apenas refletira sua
imagem, mas lhe entregara um aviso. Algo na mansão despertara. E mesmo banhada
pela luz do dia, aquela casa agora parecia mais escura, mais densa.
Determinada
a romper com a opressão crescente, Penny se levantou. Cruzou a sala com passos
hesitantes, mas decididos. Abriu janelas, escancarou portas. Queria luz.
Precisava da luz. O sol invadiu o espaço com uma intensidade quase brutal,
revelando partículas de poeira dançando no ar e afastando, por um instante, a
sensação de que tudo ali a observava.
Com um
gesto automático, apanhou os cabelos e os prendeu num coque alto, revelando seu
pescoço longo e pálido vulnerável como nunca se sentira antes. E ali, de pé no
centro da sala agora banhada pelo sol, Penny percebeu que a claridade não
afugentava o medo... apenas o iluminava.
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